quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Quando Deus toca minha ferida


Escrevi este artigo no dia 6 de fevereiro de 2011. Estou abrindo o coração porque quem sabe você vai ler, se identificar e ser abençoado. E que ao me expor assim, meu Amado Jesus seja glorificado. Amém!

Quando Deus toca minha ferida

Hoje tive mais uma daquelas reações desproporcionais diante de um pequeno comentário ou gesto que apenas revelam como somos seres complexos.

Já faz algum tempo descobri que a experiência que tive na infância de, repetidamente, ter sido “enxotada” da conversa dos mais velhos (digamos, crianças um pouquinho maiores que eu), através de expressões do tipo “a conversa ainda não chegou no chiqueiro”, ou “sai, sua intrometida”, deixou uma ferida que até hoje não foi superada. Crianças sabem ser cruéis...

Para resumir, quando eu tenho a impressão de que alguém está insinuando que minha participação não foi bem vinda, que eu estou “ultrapassando um limite”, que eu estava ali sem ter sido convidada, ou mesmo qualquer pequeno sinal de reprovação, eu me sinto como que levando um forte empurrão para bem longe. Dói profundamente como se ocorresse instantaneamente (e inconscientemente) um link entre hoje e os fatos ocorridos há mais de três décadas, gerando uma pontada de dor na alma, como uma ferida que nunca foi de fato cicatrizada.

Hoje isto aconteceu imediatamente antes do início do culto. Eu estava toda feliz, e neste clima autoconfiante fui ingenuamente fazer um pedido a alguém, quando meus “sensores” captaram um sinal de rejeição (digamos que a resposta não foi muito gentil). A reação foi imediata: minha alma murchou, e fiquei “amuada”, quase que desabafando “tá bom, desculpe por existir”. Quando coisas assim acontecem é como se eu regredisse no tempo em fração de segundos, e me encolhesse num canto como uma criança rejeitada. E com uma ponta de raiva, é claro.

Já que sou treinada em me analisar, imediatamente a mente começou a fazer conexões e questionamentos. Então pensei: será que não é este pavor de ser rejeitada, o terror da reprovação, que faz com que eu sempre tenha que me superar, ser incrível, fazer tudo perfeito? Sim, meu perfeccionismo não estaria diretamente relacionado com o pavor da rejeição? Claro, faz muito sentido.

Até aqui, tudo é fruto de um pouco de psicologia aplicada. É então que entra a melhor parte.

Eu entendo que nunca seremos totalmente sãos e que Deus não espera que tenhamos todas as feridas da alma curadas para começar a nos usar. E eu chego a crer que ele usa estas coisas confusas da vida, nossas necessidades emocionais, nossas carências e fragilidades, para nos fazer sair do lugar e até mesmo nos tornar úteis no Seu Reino. Porque eu sei que minha dedicação pode ter sido motivada pelo desejo de ser aceita (inclusive por mim mesma), e ainda assim gerou excelentes frutos pela misericórdia e graça de Deus.

De repente eu me vi, após este episódio, reconhecendo a mão de Deus na minha vida, usando meus motivos tortos para fazer sua obra perfeita. Vidas abençoadas por alguém que por motivos totalmente inconscientes pensava estar servindo somente a Deus, mas estava na verdade tentando “tapar buracos” no coração.

E aí entendi porque Ele ainda permitiu que eu sentisse aquela dor hoje. Se eu pudesse comparar, é como uma pessoa que tinha a cadeira de rodas e assim podia ir para qualquer lugar; mas o seu médico a força a se levantar, mesmo com dor. Pois agora é hora de dar o próximo passo, e deixar o “conforto” da cadeira de rodas para trás. (Quem lê, entenda!)


O Senhor mesmo tocou minha ferida e a fez doer. Ele abriu meu entendimento para o fato de que eu já posso servi-lo por motivos mais nobres. Que esta necessidade desesperada que tenho de encontrar aprovação nas pessoas pode ser preenchida pelo SIM DE DEUS para mim. 

E de repente me vi olhando para o meu Senhor: o amor dele é tão infinitamente maior do que o amor que qualquer ser humano é capaz de me dar. E na minha dor, eu o contemplei: sim, Jesus, o Senhor me ama. O Senhor não me empurra pra longe. O Senhor me diz “sim”. O Senhor me ouve e não me despreza. E o que é tão lindo: o Senhor nunca, jamais me abandonará. E cada afirmação era como um remédio sendo derramado na ferida...

Às vezes a gente vê a dor emocional como algo ruim. Mas hoje entendi como ela é necessária. Se incluirmos Jesus na cena, é claro. Na hora que a ferida está aberta, Ele entra e vem com o único remédio que realmente é capaz de curar todas as nossas mazelas: a sua Graça.

Glórias ao meu Amado Senhor. Ele é tudo para mim.

Eliane Werner "Nane".